sábado, 19 de julho de 2014

Capitulo 1

A Invasão.

Reino de Severac - Palácio da família Lovato
A jovem princesa olhava angustiada pela janela de seu quarto. Daquele ponto ela podia ver todo o palácio, e tinha uma visão privilegiada da batalha que ocorria lá em baixo. Havia fogo, confusão, pessoas gritando e homens pulando muros, chegando cada vez mais perto. Não era a primeira batalha ao qual ela assistia, Severac, o Reino de seu pai já havia sido atacado muitas outras vezes, mais aquela era de longe a mais sangrenta de todas as batalhas e estava claro que não acabaria bem. Ela gostaria de poder ajudar, fazer algo pra impedir aquele massacre, mais sua única opção era assistir e esperar que terminasse logo.
Ela estava perdida em pensamentos quando ouviu passos se aproximando e então alguém tentando abrir a porta. Assustada ela pegou o primeiro objeto que viu sobre a mesa e o segurou com força, pronta pra atacar quem quer que fosse se tentasse lhe fazer mal. Mais quando a porta se abriu o alivio foi imediato, era apenas Henrie, um criado do palácio, soldado de confiança de seu pai.
__Graças a Deus__ ela suspirou aliviada largando o objeto e indo até ele__ Henrie, onde esta o meu pai?
__Temos que ir princesa__ o rapaz disse sem se dar ao trabalho de responder.
__Ir a onde Henrie? O que esta havendo? Onde esta meu pai?__ ela insistiu preocupada.
__Ele esta lutando princesa, defendendo seu Reino junto com os outros__ o jovem explicou__ ele me mandou aqui pra que a levasse pra um lugar seguro, temos que ir depressa, já invadiram o palácio, não demorarão a chegar aqui. Precisa vir comigo.
Henrie lhe estendeu a mão e sem pensar duas vezes Demetria a segurou, então ele começou a guiá-la pra fora dali. O Rei de Severac só tinha lhe dado uma ordem, proteger a princesa com sua vida e era o que Henrie faria, ele sabia que não havia muitas chances de vencerem aquela batalha, mais o Rei nunca desistiria, ele lutaria até o fim, como o homem honrado que era. 
Os dois correram pelos corredores do palácio, havia uma passagem secreta por onde Henrie levaria Demetria até um lugar seguro, só precisava encontrar o lugar certo. Demetria parou um instante, tirando os sapatos pra poder correr melhor, então continuaram, mas ao virar no corredor eles foram barrados por três homens.
__Henrie__ Demetria sussurrou assustada, enquanto os homens se aproximavam com suas espadas.
__Tudo bem princesa, eu lhe protegerei__ ele prometeu__ fique atrás de mim. 
Demetria deu alguns passos pra trás, e Henrie avançou pra cima dos três homens... Ele era um ótimo espadachim, o melhor segundo seu pai, mais os soldados de Murdor também eram e estavam em maior número. Ele derrubou o primeiro homem com um golpe certeiro no peito e o segundo com um corte na garganta que o fez sangrar até a morte. O terceiro homem lhe acertou um soco no rosto e lhe fez um corte na perna antes que Henrie enterrasse a espada em seu coração.
__Henrie, você esta bem?__ Demetria perguntou preocupada.
__Temos que continuar correndo princesa__ ele disse ignorando a pergunta__ não temos tempo pra... 
Ele parou de falar de repente, os olhos arregalados e uma expressão de dor preenchendo seu semblante... Demetria o olhou confusa, só entendeu o que havia acontecido quando Henrie despencou no chão sem vida, revelando bem atrás dele mais um cavaleiro, que o acertara por trás enquanto estava distraído... Demetria gritou horrorizada enquanto andava pra trás, se afastando dele.
__Venha cá princesa__ o homem disse sorrindo pra ela, a espada suja de sangue brilhando__ vamos conversar. 
__Fique longe de mim__ ela ordenou.
Demetria se virou, dando as costas ao homem e começou a correr da mesma direção de onde viera antes, ela sabia onde ficava a passagem secreta e se conseguisse chegar até lá estaria segura, mais quando virou novamente no corredor esbarrou em outro homem e caiu sentada no chão. Era tarde pra correr, eles haviam invadido o palácio, estavam por todos os lados e eram muitos, ela era só uma mulher e não podia com eles. 
__Indo a algum lugar princesa?__ o homem que matara Henrie perguntou sorrindo. 
__Se afastem de mim__ ela gritou desesperada, se arrastando no chão, mais não tinha pra onde correr, estava cercada.
__O que fazemos com ela?__ o outro homem perguntou, seus olhos a analisando.
__Vamos levá-la ao nosso senhor, ele vai saber o que fazer__ respondeu com um sorriso que fez Demi ter calafrios. 
Ela tentou fugir, mais os dois homens a seguraram cada um por um braço e começaram a arrastá-la. Demetria gritou, chorou desesperada, mais era em vão. Ela reconhecia o caminho por onde os homens a estavam levando, e teve ainda mais certeza quando eles pararam diante das enormes portas douradas que selavam a sala do trono de seu pai.
Havia dois homens de guarda na porta, mais não eram soldados de Severac ela sabia... As roupas escuras e os rostos sombrios eram obviamente de soldados de Murdor, eles tinham tomado até mesmo a sala de seu pai. Ela se perguntou onde ele estaria agora, só esperava que estivesse seguro. Os guardas abriram à porta e os dois homens continuaram a arrastando pra dentro do salão. Quando estavam lá dentro a soltaram de qualquer jeito no chão, fazendo-a cair ajoelhada atrás de um homem que estava em pé de frente pro trono de seu pai. 
__Senhor__ um dos guardas chamou.
O homem se virou, mais Demetria não pode ver quem era, ele usava uma enorme capa preta que cobria suas roupas e estava com um capuz cobrindo seu rosto. Mais uma vez aqueles calafrios... Ela não sabia quem ele era, mais se tivesse que chutar diria que vestido daquele jeito parecia à própria morte. 
__O que é isso?__ ele perguntou, a voz fria como gelo.
__Demetria__ um dos guardas disse, o tom de deboche que usara quando falara com ela tinha sumido, agora só havia respeito e talvez... Medo__ a princesa de Severac senhor, a encontramos no corredor, estava tentando fugir.

Ele ergueu a mão e abaixou o capuz que cobria seu rosto, mais mesmo assim não era possível saber quem ele era... Tinha um pano amarrado em volta do rosto como uma máscara, cobrindo o nariz e a boca, como bandidos usavam. Só era possível dizer que tinha a pele morena, os cabelos eram negros como a noite e os olhos azuis como o céu... Tão azuis que era possível se perder se olhasse por muito tempo, mais Demetria desviou os olhos incomodada, ela não gostara do que vira ali... Apenas frieza e amargura. 
__O que fazemos com ela senhor?__ perguntou.
__Levantem-na__ ele ordenou. 
Os dois guardas agarraram Demetria pelos braços e a puseram de pé num único movimento... Ela se encolheu quando o homem do capuz chegou mais perto, a analisando dos pés a cabeça. Desde os cabelos negros, que lhe caiam pelos ombros soltos, com algumas tranças, até o longo vestido azul, as jóias que usava e parou em seus olhos... Lindos olhos castanhos, vermelhos pelas lágrimas e assustados, temendo o futuro.
__Nosso Rei vai gostar de conhecê-la__ ele sussurrou__ vamos levá-la conosco e deixar que ele decida o que deve ser feito dela. 
__Sim senhor__ eles concordaram.
__Não__ ela protestou tentando se soltar das mãos deles__ me larguem... O que fizeram com meu pai? Onde ele esta?
__Façam-na calar a boca__ ordenou irritado e lhe deu as costas__ onde ele esta?
Fez-se um silencio desconfortável enquanto os homens se entreolhavam nervosos, todos parecendo assustados.
__Eu fiz uma pergunta__ repetiu lentamente como se falasse com crianças__ onde ele esta? 
__Tivemos um pequeno problema senhor__ um dos homens respondeu, claramente desconfortável__ ele conseguiu fugir.
__Como assim conseguiu fugir?__ questionou irritado__ ele estava preso, eu mesmo me certifiquei disso... Deixei você vigiando ele, como aquele velho conseguiu fugir? 
__Ele enganou a mim e a meus homens... Não consegui segurá-lo a tempo senhor, sinto muito.
__O Rei Klaus ordenou que não o matássemos, ele disse que queria ver o Rei de Severac, queria que o levássemos até ele... O que devo dizer agora? Que um de meus homens o deixou escapar porque é um incompetente? 
__Senhor, eu sinto muito__ ele gaguejou nervoso__ foi um acidente e...
__CALE A BOCA__ gritou exaltado erguendo a espada e apontando pro pescoço do rapaz que estremeceu.
Demetria que assistia a tudo entendeu que eles falavam de seu pai... O tinham capturado, mais ele fugira, será que estava bem?
__O que fizeram ao meu pai?__ ela voltou a perguntar__ e minha mãe... Porque estão fazendo isso?
__Pensei que tivesse mandado você calar a boca dela__ murmurou zangado.
Os dois homens seguraram Demetria com mais força e um deles tapou sua boca pra que ela parasse de falar. 
__Você vai sair da minha frente agora e vai procurar aquele velho em todo lugar__ ordenou irritado__ e é bom que você o encontre ou não vai gostar do que vou fazer com você... Só volte aqui quando tiver o encontrado, e você tem até o amanhecer.
O homem concordou com um breve aceno de cabeça, os olhos fixos no chão. 
__O que esta esperando? Vá logo__ gritou e só então ele e seus homens saíram do salão. 
Ele se virou novamente e viu que seus homens ainda estavam ali segurando Demetria.
__Tirem essa mulher da minha frente__ ele ordenou__ prendam-na em algum lugar até a hora de irmos e é bom que não a deixem fugir também ou vão se arrepender profundamente... Vão, andem logo com isso. 
Sem dizer uma palavra os guardas arrastaram Demetria pra fora do salão e a prenderam em um dos quartos pra esperar que seu senhor mandasse buscá-la. Demetria se sentou no chão e começou a chorar, estava com medo do que fariam com ela, com medo de que tivessem ferido seus pais. A imagem de Henrie sendo morto invadiu sua mente e ela teve medo que fosse esse o seu destino e de sua família... Era o fim do Reino de Severac, e ela não podia fazer nada pra impedir.

Aprisionada
As horas pareceram se arrastar enquanto Demetria esperava pelo amanhecer. Trancada naquele quarto ela ainda podia ouvir os sons da batalha lá fora, os gritos e todo o povo de Severac sendo subjugado, seu Reino estava acabado, seu pai desaparecido, só esperava que ele tivesse conseguido mesmo fugir e que não o encontrassem, pelo menos ele estaria seguro. 
A princesa já estava se deixando levar pelo sono quando dois guardas entraram no quarto e sem dizer uma palavra a arrastaram pra fora. Ela chegou a pensar que a levariam de volta a sala do trono, mas ao invés disso a carregaram pra fora do castelo, sem muitos cuidados, o povo de Murdor era formado por bárbaros e assassinos, nenhum dele tinha educação ou um pingo de classe. Quando chegaram do lado de fora Demetria pode avaliar mais de perto a extensão dos estragos. Casas estavam destruídas, outras pegavam fogo, havia corpos de soldados e também de inocentes espalhados pelo chão, até mesmo crianças, aqueles porcos matavam qualquer coisa que se opusessem a eles, Demetria teve vontade de vomitar ao avistar tanto sangue mas se recusou a demonstrar sua fraqueza.

__Coloquem ela na carroça__ aquele homem estranho que mantinha o rosto coberto e parecia ser o comandante dos soldados ordenou e observou sem emoção naqueles olhos azuis enquanto arrastavam a princesa até uma carroça, onde haviam montado uma espécie de gaiola e a trancaram lá dentro__ talvez levá-la como brinde ao nosso Rei o impeça de matar todos vocês imprestáveis por terem deixado o velho comandante desse lugar fugir. Torçam pra que ele esteja de bom humor.
Apesar da situação Demetria sorriu ao ouvir que não tinha conseguido capturar seu pai.
__Meu pai vai caçar e matar cada um de vocês bárbaros__ ela murmurou enojada__ se tem amor a suas vidas, deveriam me soltar e fugir, pois ele virá atrás de vocês e não os perdoará se me matarem.
Os soldados riram das palavras da moça.
__Oh princesa, estamos mesmo contando com o fato de que seu pai virá atrás de você__ um dos soldados disse__ e ai quando ele aparecer, nós faremos o mesmo que fizemos com todo o resto desse seu povo esnobe, vamos arrancar a cabeça dele.
__Nunca vão conseguir matá-lo, ele virá me salvar.
__Chega dessa discussão inútil__ o comandante ordenou__ preparem os soldados pra partir e deixe o resto dos homens de guarda na cidade até segundas ordens, se alguém dessa cidade tentar fugir ou lutar, mate__ e então se virou pra Demetria__ e você princesa, fique bem quietinha e obedeça, pois é isso que acontece a quem desobedece ou desafia o Rei de Murdor.

Ela olhou pra onde ele apontava e conteve o pavor ao ver o corpo de um soldado pendurado na forca já sem vida, ela notara que era um dos soldados de Murdor, o mesmo que anunciara o sumiço de seu pai mais cedo. Lembrou-se das palavras daquele homem cruel mais cedo, e de como prometera punir o soldado se ele não trouxesse o Rei de volta. Se eles faziam isso com os próprios homens, o que não fariam com alguém como ela? 
__O aviso está dado__ ele murmurou e então lhe deu as costas, montando em seu cavalo negro e assumindo a dianteira do grupo, gritando ordens para seus homens. 
Quando a carroça começou a se mover e se afastar da cidade os olhos da princesa se encheram de lágrimas. O que seria feito dela agora? Estaria condenada a morte ou a algo pior? Será que seu pai estava mesmo vivo e apareceria para salvá-la? E seu noivo Alex, o que teria acontecido com ele na confusão? Eram tantas perguntas e ela estava tão assustada, mas não havia nada que pudesse fazer a não ser esperar e rezar pra que tudo se resolvesse, sua família não a abandonaria, eles apareceriam para socorrê-la e ela ficaria bem, pelo menos era nisso que queria acreditar. 


Fim do Capítulo

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